Memórias afetivas e criatividade: como a nostalgia pode estimular a inovação nas escolas

Memórias afetivas e criatividade: como a nostalgia pode estimular a inovação nas escolas

O ambiente escolar é muito mais do que salas de aula e corredores; é um caldeirão de experiências que moldam não apenas a mente, mas também o coração dos estudantes. Dentro desse contexto, as memórias afetivas e a nostalgia desempenham papéis fundamentais, não apenas como recordação do passado, mas como catalisadores para estimular a criatividade e a inovação.

As memórias afetivas estão intrinsecamente ligadas às emoções que associamos aos momentos vividos em vários ambientes, na escola, em casa e nos momentos em que estamos com outras pessoas. 

Na escola, por exemplo, seja a amizade que se fortaleceu nos intervalos, as risadas compartilhadas durante as aulas ou os desafios superados em equipe, essas memórias não são apenas flashes do passado, mas alicerces que sustentam a identidade de cada indivíduo. Ao relembrar esses momentos, somos transportados para um estado emocional que pode ser um terreno fértil para a criatividade.

A nostalgia, por sua vez, é como um portal que conecta o passado ao presente. O olhar saudoso para experiências passadas não apenas traz uma sensação reconfortante, mas também serve como uma fonte de inspiração. No ambiente escolar, a nostalgia pode ser um motivador poderoso para a inovação. Ao revisitar métodos pedagógicos antigos, tradições ou até mesmo espaços físicos da escola, os educadores e alunos podem encontrar elementos que, adaptados ao contexto atual, geram soluções inovadoras para desafios contemporâneos.

Promover a preservação e revitalização de elementos nostálgicos no ambiente escolar não significa estagnar no passado, mas sim utilizar as raízes como impulsores para o crescimento futuro. Na educação, reconhecer e valorizar as histórias de nossos estudantes, proporcionam um terreno propício para a inovação, pois constroem uma base sólida de identidade que impulsiona a comunidade educacional na busca por métodos diferenciados e engajados, que podem fazer a diferença. 

Memórias Afetivas e sua influência no processo criativo

Antes de tudo é preciso compreender o que são as memórias afetivas. Somos seres privilegiados por constituir memória e memórias que provocam reações em nosso estado de ser. 

Uma memória afetiva é aquela que traz uma pulsão, que modifica nosso comportamento ao lembrar de algo. Por exemplo, ao assistir um vídeo antigo de nossos avós, podemos sorrir, nos emocionar, sentir um “aperto no coração” ou até mesmo chorar de saudade. Neste caso, não foi uma simples lembrança. Trata-se de algo maior, em que alterou nosso estado e externalizou algum tipo de emoção. 

Desta forma, as memórias afetivas desempenham um papel fundamental na formação de nossa identidade e, por conseguinte, na maneira como abordamos o processo criativo. São fragmentos do passado que, muitas vezes, permanecem entrelaçados em nossa mente, moldando nossas experiências presentes e, surpreendentemente, catalisando novas formas de expressão artística.

A criatividade vem com mais facilidade quando nos conectamos emocionalmente com o processo de criação e com o propósito de nosso trabalho. Sempre que há emoção, tudo fica melhor direcionado e as inspirações vêm com naturalidade. 

Por exemplo, ao explorar as reminiscências que habitam nosso ser, somos guiados por um terreno repleto de emoções, sensações e nuances que transcendem o tempo. O aroma de um café recém-passado pode evocar não apenas o sabor da infância, mas também desencadear uma cascata de imagens, sons e sentimentos há muito adormecidos. Essa riqueza de memórias afetivas constitui a paleta do artista, oferecendo matizes inexplorados que alimentam a criatividade.

Além disso, as memórias afetivas trazem repertórios que devem ser revisitados e que auxiliam no processo criativo. Há inspiração neste processo. Elas não apenas adicionam profundidade às narrativas, mas também conferem autenticidade às criações. Um escritor, ao revisitar as lembranças de um entardecer dourado na infância, pode encontrar as palavras certas para pintar uma paisagem emocional rica e envolvente. Da mesma forma, um músico pode extrair a melodia de um momento especial, transformando a nostalgia em notas que ressoam além do tempo.

A influência das memórias afetivas no processo criativo transcende as fronteiras artísticas, estendendo-se a áreas como design, ciência e inovação. Os designers, ao ancorarem suas criações em lembranças marcantes, podem construir experiências que transcendem a estética, conectando-se profundamente com o público. Cientistas e inovadores, por sua vez, podem encontrar soluções únicas ao explorar a sabedoria contida nas recordações emocionais, criando produtos e tecnologias que tocam não apenas a mente, mas também o coração.

Entretanto, as memórias afetivas não são apenas um depósito de inspiração; também desempenham um papel crucial na superação de desafios criativos. Ao enfrentar bloqueios ou impasses, a imersão nas recordações pessoais pode oferecer uma perspectiva renovada, desbloqueando caminhos antes não considerados e fornecendo respostas inesperadas.

Exemplos de estratégias educacionais, com elementos nostálgicos, para engajar os alunos. 

No universo da educação, a busca por estratégias inovadoras e envolventes é constante. Em meio a essa jornada, gosto de reforçar e explorar a incorporação de elementos nostálgicos em práticas pedagógicas. Essa abordagem singular visa não apenas transmitir conhecimento, mas também criar uma conexão afetiva entre os alunos e o processo de aprendizado.

Uma estratégia eficaz que ressoa com a nostalgia é a utilização de jogos educativos clássicos. Desde quebra-cabeças até jogos de tabuleiro tradicionais, essas atividades não só despertam memórias afetivas, mas também promovem o pensamento crítico e a colaboração entre os estudantes. Ao reviver jogos que marcaram e ultrapassaram gerações, os educadores criam uma ponte entre o passado e o presente, transformando a sala de aula em um espaço de aprendizado lúdico e interativo. Além disso, será importante observar as memórias afetivas que virão com esta técnica. 

Outro exemplo notável é a introdução de literatura clássica de forma inovadora. Ao adaptar métodos tradicionais de ensino para incorporar tecnologias contemporâneas, como podcasts ou projetos multimídia, os educadores conseguem apresentar obras atemporais de maneiras cativantes. Isso não apenas estimula a apreciação pela literatura clássica, mas também proporciona aos alunos uma oportunidade de explorar suas próprias habilidades criativas ao reinterpretar histórias intemporais.

Como exemplo, posso registrar a obra de Monteiro Lobato. Em minhas palestras, sempre que apresento o Sítio do Pica-Pau Amarelo, uma avalanche de sorrisos toma conta da sala. Muitas memórias afetivas surgem e há uma conexão imediata com os professores que estão me ouvindo. 

Outro ponto é a utilização de elementos visuais nostálgicos, que também se destaca como uma abordagem eficiente. Projetos que recriam estilos de design retrô, utilizando referências visuais familiares, não apenas capturam a atenção dos alunos, mas também os transportam para um ambiente acolhedor e familiar. Isso cria uma atmosfera propícia ao aprendizado, onde os estudantes se sentem confortáveis e estimulados a participar ativamente das atividades propostas. Retomar ou desenhar espaços da casa dos avós, objetos que utilizavam ou até mesmo, trazer ou montar materiais não mais utilizados por eles, mas que estão nas memórias de seus pais e familiares, como por exemplo: disquetes, fita K7, discos de vinil, telefones e televisores antigos, ou seja, criar um ambiente para que a nostalgia apareça, mesmo eles não terem vivido nessas épocas. 

Além disso, a organização de eventos temáticos com base em décadas passadas é uma maneira envolvente de integrar a nostalgia ao ambiente escolar. Festas retrô, feiras culturais e apresentações que resgatam músicas e vestimentas de épocas específicas proporcionam uma experiência imersiva que transcende os limites tradicionais da sala de aula. Esse tipo de abordagem não apenas torna a aprendizagem mais memorável, mas também cria uma comunidade escolar mais unida.

Um último ponto como estratégia educacional é deixar que os alunos venham com elementos que para eles trazem memórias afetivas e nostalgia. Criar uma ambientação favorável e fazer com eles criem a partir desta experiência. 

Inovar na sala de aula não requer só recursos tecnológicos, pelo contrário, uma inovação que proporciona conexão, engajamento e aprendizado via emoção, faz toda a diferença. Cada vez mais estamos sedentos de métodos de ensino que promovam a inclusão e o bem-estar. Trazer memórias afetivas e nostalgia para a educação favorece esse caminho. Contudo, é preciso estar atento ao seu perfil enquanto educador e o perfil da turma, para que estratégias assim possam corroborar com o objetivo proposto pelo professor.

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