Memórias Afetivas e sentimentos: uma doce relação

Memórias afetivas e sentimentos: uma doce relação

Quem não se lembra daquele suspiro gostoso que comeu na infância, de um pudim ou de um doce bem delicioso na casa da avó ou de uma tia? Ou então aquele cheiro de terra após uma chuva passageira ou aquela sensação de frescor ao andar por uma trilha e sentir o “sabor” dos ventos batendo nas árvores? Tudo o que vivemos é constituído por memórias afetivas.

O ser humano se constrói no mundo por meio dos afetos. São por eles que conseguimos estabelecer nossos sentimentos. Seria muito chato viver em um ambiente em que não houvesse afetividade, relacionamentos, trocas e experiências emocionais. Desde bebê, vamos nos formando como pessoas e aquilo que aprendemos e sentimos vai ficando guardado em nossa memória.

A memória afetiva é uma pulsão que temos ao recordar algo, de forma proposital ou não. Ou seja, muitas vezes recordamos de algo ao ver uma imagem na TV ou ao sentir um cheiro do suspiro, por exemplo, a isso chamo de dispositivos de evocação. É muito bom nos depararmos com elementos que irão nos levar de volta a um lugar no passado. E isso é fantástico! Uma verdadeira máquina do tempo.

E por falar nela, acredito que em algumas fases de nossas vidas o que queríamos era ter algo que pudesse nos transportar para o nosso passado, não é mesmo? Já imaginou você revendo sua infância? Olhando para os seus medos e seus sonhos? Se observando na escola e revendo sua primeira paixão na adolescência? Ou não precisa ir tão longe, voltar há cinco ou seis anos e olhar novamente o seu filho pequeno ou uma ocasião especial que aconteceu com você.

Relembrar faz bem porque nos leva a um espaço que vivemos e que só existirá em nossas memórias afetivas. É impossível, pelo menos por enquanto, uma viagem destas na forma física. Temos que nos contentar com o que o nosso cérebro e coração podem fazer.

A sua história tem uma importância imensa para você e para quem está ao seu lado. As memórias são vivas, porque são sentidas independente do tempo e do espaço em que estamos. Podemos estar no quarto sozinhos, na cozinha fazendo o almoço, no escritório, no consultório, na empresa ou até mesmo tomando banho. Sempre teremos “insights” de memórias que vêm e vão e nos mostram como éramos, o que fazíamos, o que desejávamos e o que almejamos para as nossas vidas.  

Pensar sobre nossas memórias afetivas nos faz perceber como estamos no presente. São por elas que podemos compreender nossas preferências, atitudes e caminhos percorridos. Olhe para trás, perceba alguma memória afetiva da sua infância ou adolescência! Ela tem algum sentido para você hoje? Provavelmente sim. Se olhar com calma, irá perceber que talvez algum gesto seu atual, um objeto de decoração, uma playlist ou uma série favorita tem relação com esta lembrança. E por que não aproveitar isso?

As memórias afetivas estão ligadas com os nossos mais variados sentimentos. Gosto de afirmar que os sentimentos são afetos externalizados por meio da linguagem. A criança desenha com facilidade o que ela sente. Se os traços são coloridos e cheios de vida é porque ela está bem emocionalmente, agora quando há riscos pretos, sombras e ou objetos muito pequenos diante de uma folha A4, há um sinal aí de preocupação. Colocar para fora nossos sentimentos é se expressar por qualquer forma de linguagem.

Você que lê este texto provavelmente já enviou algum emoji “representando” seu sentimento em determinado momento. Pode ter sido a carinha feliz, o sorriso, o choro ou um coração, por exemplo. São representações visuais do que você estava sentido. Viu como é fácil externalizar sentimentos por meio da afetividade?

Nossas memórias afetivas podem e devem ser externalizadas. Escrevê-las, contá-las, desenhá-las, independente do formato é importante expressar e pontuar suas recordações. Isso é maravilhoso. Já se pegou contando para alguém o que você fazia quando escutava uma música preferida? Ou o que estava acontecendo na sua vida quanto Titanic (três horas de filme) estreou no cinema? Você vai perceber que sua forma de contar será diferente. Seu sorriso será maior ou seus olhos ficarão mais lacrimejados. Isso acontece porque os sentimentos são colocados para fora a partir das memórias afetivas.

Lembra do suspiro que falei lá no início? O suspiro tem um sabor especial para mim porque me traz de volta a companhia de uma tia muito querida, no qual tenho um imenso carinho. “Só ela sabe fazer aquele suspiro”, afirmo sempre! Será? Será mesmo que é uma receita única ou é a minha memória afetiva me mostrando que aquele tempo foi inesquecível para mim? Porque com ela tive momentos felizes e o doce que ficou são os sentimentos expostos por meio de uma clara em neve com açúcar assado em uma forma.

Estar vivo é viver mediante memórias afetivas, por isso, aproveite as suas.

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