Pós-pandemia: é possível extrair algo nas relações afetivas?

Pós-pandemia: é possível extrair algo positivo nas relações afetivas?

Não podemos afirmar ainda que chegamos ao fim da pandemia Covid-19. Contudo, é de se concordar que há sinais de esperança para que isso se torne realidade. Como será o mundo pós-pandemia? O que ficou para a humanidade? Que lições tiramos disso tudo?

Perguntas como estas são sempre complexas e, ao mesmo tempo, necessárias. Concordamos que não seremos os mesmos e tão pouco voltaremos ao que tínhamos antes. De 2020 para cá, sequelas e lições ficaram. É impressionante porque temos a sensação de que os dois últimos anos vivemos em um só.

Por aí, começamos a refletir o que podemos extrair de positivo nas relações afetivas pós-pandemia. Se pensarmos que o ser humano é um sujeito que desde o seu nascimento é permeado por afetos e que por ele se constitui no mundo, como compreender a afetividade nas interações sociais após um duro combate como esse que vivemos?

Gosto de pensar que somos seres adaptáveis e superamos muitos obstáculos. Isso vem desde a nossa origem. A necessidade da escrita, da fala, do caminhar, por exemplo, são sinais da evolução humana que nos acompanham até hoje. Nosso cérebro é programado para nos conectar socialmente, diz a neurociência. O isolamento social nos reforça essa teoria.

No mundo pós-pandemia, as relações afetivas estão mais acentuadas. Percebemos a velocidade da vida em piscar de olhos. Perdemos pessoas queridas, adoecemos mentalmente, ficamos mais irritados e estressados, visto o medo que nos rondou (e ainda ronda).

Quero nesse texto, explicar alguns pontos positivos para as relações afetivas, no mundo pós-pandemia para as empresas e escolas.  

Pontos positivos para as relações afetivas no mundo pós-pandêmico em Empresas e Escolas

1) Empresas e funcionários mais colaborativos

O home-office veio para ficar de vez, isso é realidade. A pandemia nos mostrou que é possível vivenciar essa prática dentro de organizações comerciais e industriais. Empresas que conseguem operar nesse sistema irão continuar com o trabalho remoto.

De positivo, a pós-pandemia nos mostra que o colaborador terá mais tempo para organizar suas questões particulares. Por exemplo, em grandes centros, o tempo gasto para o deslocamento até o ambiente de trabalho pode agora ser utilizado para ficar com a família ou resolver problemas domésticos.

A família é um dos grupos de referência que mais se constitui em relações afetivas e por isso, consequentemente, torna-se um fator de relevância quando pensamos na consequência do trabalho remoto. Um colaborador mais feliz é aquele que entrega suas ações e resultados de forma mais satisfatória.

As empresas não devem obrigar que seus funcionários sejam felizes com o que fazem, devem promover ações para que esse sentimento venha como consequência. Já dizia Daniel Goleman: “A tarefa fundamental dos líderes é instalar bons sentimentos naqueles que lideram”.

Presencial ou remoto, uma das marcas positivas com a pós-pandemia é o acesso e a oportunidade de (re)viver relações afetivas em casa e no trabalho.

Nesse cenário, as relações afetivas na pós-pandemia redesenham novos contextos em que prevalece a colaboração, o trabalho em equipe, a disciplina e o engajamento participativo.

Diante de tragédias, nosso corpo reage. Alguns conseguem superar e aprender com elas, outros precisam de ajuda profissional. No entanto, não há como negar que interferências assim nos transformam e por isso, precisamos pensar o que de bom conseguimos extrair.

A pós-pandemia dá indícios de que a humanidade não será mais a mesma. Também pudera, não há como voltar a ser o que éramos diante do que vivemos. Todavia, esses sinais reforçam o quanto necessitamos das relações afetivas.

Líderes e gestores precisam estar atentos às habilidades socioemocionais de seus colaboradores. Compreender seus anseios, sonhos e motivações, também são importantes.

Essa soma de atitudes traz para o ambiente corporativo uma unidade positiva entre a entrega de resultados e o fator pessoal, que faz parte da equipe. Não há como desvincular campo profissional e vida pessoal. A pós-pandemia nos mostra um mundo mais preocupado com as questões técnicas e emocionais.

Considero positivo o fato de as organizações prestarem mais atenção nas soft skills de seus colaboradores, visto serem importantes “instrumentos” para se diferenciarem no mercado de trabalho. Criatividade, resiliência, inovação, trabalho em equipe, comunicação, só acontecem, por exemplo, se oportunizamos relações afetivas. A afetividade, explica Le Breton: “simboliza o clima moral que envolve em permanência a relação do indivíduo com o mundo”.

2) Escolas e alunos mais próximos

Fica difícil de saber quem mais mudou nesses dois últimos anos com a pandemia, se foram os alunos ou os professores. A pós-pandemia tende a reforçar essas transformações na educação. Por exemplo, uma pesquisa realizada pelo grupo O Estadão, em agosto de 2021, mostrou que 72% dos professores estavam ou sofreram problemas de saúde mental. Já em outra, publicada pela Agência Brasil, no mês de outubro do mesmo ano, destacou que as famílias, cerca de 89%, passaram a respeitar mais os professores na pandemia.

Professores sentiram falta de seus alunos, do olhar olho no olho, das interações em sala. Os corredores das escolas e universidades ficaram vazios, um silêncio que alterou a estrutura da educação. Estudantes perceberam o quanto a sala de aula é um ambiente desejável para trocas afetivas e professores corroboraram com a teoria de que lugar de aluno é em sala de aula com o seu professor.

Na educação, o avanço e acesso das tecnologias digitais para interação e construção do aprendizado é um dos fatores que podemos olhar como positivo no mundo pós-pandemia.

A pandemia mostrou o quanto escolas e universidades são capazes de se adaptar e se preparar para não deixar seus alunos “na mão”. Algo que parecia vir somente daqui uns 10 ou 20 anos, aconteceu da “noite para o dia”.

Foi possível compreender que a tecnologia pode e deve ser usada como recurso de aprendizado, mas que ela sozinha não dá conta o suficiente para que o aluno aprenda. É necessário a mediação e troca com o professor via relações afetivas. Mesmo diante de telas, presenciamos o quanto foi importante as conexões e vínculos afetivos.

Pesquisa realizada pelo Governo Federal, no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira | Inep, mostrou que a estratégia mais adotada de comunicação entre professores e alunos ocorreu por meio de e-mail, telefone, redes sociais e aplicativo de mensagem. Esse fato comprova que quanto mais próximo e pessoal for o relacionamento, melhor funciona para ambas as partes.

Mensagens e telefonemas aproximam porque há trocas afetivas sendo construídas. Se escuta, lê, escreve e fala. Sentidos sensoriais são aguçados, o que favorece o vínculo e a confiança.

O mundo pós-pandemia irá comprovar que para ensinar não é necessário só recursos tecnológicos e educacionais. Para “funcionar” é necessário que as trocas afetivas aconteçam entre professores e alunos, porque assim, o processo de aprendizagem se fortalece. Não aprendemos com quem não gostamos. Assim como não ensinamos pessoas que não nos geram sentimentos favoráveis.

De positivo, a pandemia nos mostrou que na educação, a resiliência é fator predominante e que o ensino se constrói, sim, de forma significativa, via trocas afetivas. Vimos acontecer diante de telas e estamos presenciando a volta às aulas dessa maneira.

Dicas de como viver melhor na pós-pandemia

Para finalizar esse texto, quero deixar algumas dicas de como podemos viver melhor no pós-pandemia.

– Exercitar a empatia.

Empatia é algo essencial para se viver melhor e fortalecer as trocas afetivas. Quando nos colocamos no lugar do outro, percebemos que não somos os únicos no mundo e o sentimento de coletividade nos ajuda a entender melhor a vida.

– Olhe para suas memórias.

Resgate fotos suas e vídeos antigos. Reúna a família, se divirtam ao recordar momentos importantes de vocês. Esse exercício servirá para pensarem na força das memórias afetivas que estão com vocês. Além disso, a pandemia mostrou o quanto é necessário valorizar momentos assim, que ficam eternos. Por que não aproveitar? 

– Elogios ainda valem

Líderes e gestores já devem ter percebido o quanto são necessárias as habilidades socioemocionais de seus colaboradores. Por isso, elogiar seus funcionários, pontuar o que fizeram de positivo não fará mal a ninguém. Pelo contrário, quando se recebe um feedback positivo, a tendência é querer continuar a desenvolver um bom trabalho. São “pequenas migalhas” que fazem pequenos pássaros retornarem felizes aos seus voos.

– Desfrutar de bons momentos.

Tudo o que queremos na pós-pandemia é desfrutar de bons momentos com as pessoas que estão ao nosso lado. Sejam colegas de trabalho, amigos ou familiares, desejamos estar juntos, sorrir, abraçar e comemorar. A pandemia nos roubou instantes assim. Agora chegou a hora de tomar de volta o que é nosso. As trocas afetivas nos fortalecem porque nos fazem sentir o que somos por natureza: seres humanos, conectados socialmente.

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